Mogli: O Menino Lobo

Um misto de surpresa e desconfiança, era o que geravam as primeiras imagens do remake de Mogli: O Menino Lobo. Se por um lado a produção trazia belas e realistas imagens da selva e seus habitantes, por outro a lembrança das canções e animais antropomórficos do clássico animado de 1967, pareciam não encaixar com tamanho realismo. Dotar diversas espécies de CGI com o dom da fala, e fazê-las interagir com um ator humano sem parecer falso ou caricato parecia tarefa impossível. Isso sem falar na memória afetiva, que muito marmanjo traz da história.

Mas, este não é o primeiro filme da série de refilmagens em live-action anunciadas pela Disney. E seu mais recente título,  Cinderela, deixou uma ótima impressão ao trazer boas atuações, um tom mais moderno tanto para o visual quanto para o tema, sem desrespeitar as memórias do filme original. Enquanto a nova versão da gata borralheira acerta no tom. A nova versão do romance O Livro da Selva de Rudyard Kipling é um primor em técnica.

Mogli (Neel Sethi) é um "filhote de homem" criado por lobos, até que o tigre Shere Khan (Idris Elba no original e Thiago Lacerda na versão dublada), que não gosta de humanos descobre sua existência e decide eliminar a ameaça que o menino será quando alcançar a idade adulta. Assim, Mogli precisa abandonar o único lar que conhece e em sua jornada para encontra diferentes perigos, aliados e aprende valiosas lições.

Sempre (ou quase) sobre a proteção de seu amigo, a pantera bagheera (Ben Kinsgley/Dan Stulbach), e mais tarde pelo urso "boa vida" Balu (Bill Murray/Marcos Palmeira). Entre os animais que influenciam a vida do menino estão sua mãe loba Raksha (Lupita Nyong'o/Júlia Lemmertz), o lobo alfa Akela (Giancarlo Esposito/Dário de Castro). Além da hipnotizante cobra Kaa (Scarlett Johansson/Alinne Moraes) e o Rei Louie (Christopher Walken/Tiago Abravanel).

Antes que você entre em pânico pelo excesso de atores globais no lugar de dubladores profissionais, vale avisar: o pessoal foi muito bem dirigido e a versão nacional é bastante competente. Inclusive nos momentos em que o longa resgata as canções da animação. O único porém é com aqueles que se incomodam com o excesso de sotaque carioca em dublagens (o que não é o meu caso, já que tenho esse sotaque), mas isso é assunto para outro post. É claro, quem tiver chance de assistir também com áudio original não deve deixar passar a oportunidade.

E por falar nas canções, o fator nostalgia traz duas de volta "The Bare Necessities" ("Somente O Necessário") e "I Wan'na Be Like You" ("Eu Quero Ser Como Você"), surpreendentemente bem encaixadas no meio da trama.

A trama traz uma estrutura episódica, onde Mogli precisa superar uma dificuldade antes de encontrar um desafio ainda maior, até chegar a verdadeira ameaça. O roteiro estilo vídeo-game, não é uma novidade, mas funciona com os pequenos, e não chega a incomodar os mais velhos. Mais difícil passar despercebido é a simplicidade na construção das personagens. Os animais são bons ou maus, simples assim. Não há meio termo, ou tons de cinza. O maniqueísmo certamente é uma herança das antigas produções do estúdio, assim como as diversas mensagens e lições ao longo do filme.

Entretanto, é a técnica o ponto alto do filme. O cuidado na criação das personagens em computação gráfica é impecável. O resultado são animais com movimentos realistas, olhares expressivos e cenários ricos que em momento nenhum destoam do único elemento real em cena, o carismático Neel Sethi. Ao mesmo tempo que fantástico, afinal os animais falam, o universo é extremamente realista. Desde as personagens, até a escolha da palheta de cores, sombrias e dessaturadas que tornam a selva grande e cheia de perigo. Total oposto da profusão de cores esperada de um filme infantil.

Mogli: O Menino Lobo, pode não inovar no discurso. Mas dá um passo importante na forma de encarar o CGI, ao usar uma quantidade absurda de efeitos computadorizados complexos, para chegar ao resultado mais natural possível. Suas crianças pequenas vão ter certeza, que centenas de macacos foram exemplarmente treinados para aparecer na produção. Uma aventura caprichada, que alcança o feito incrível de nos fazer acreditar que animais podem falar.

Mogli: O Menino Lobo (The Jungle Book)
2016 - EUA - 105min
Aventura

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