Assassin's Creed

De vez em sempre, é bom relembrar: uma adaptação de um produto para uma nova mídia precisa funcionar sozinha. Independente do formato ou legião de fãs. Ou seja, para ser bem sucedido nos cinemas Assassin's Creed deve ser compreensível e gerar empatia mesmo para quem sequer sabe da existência do game da Ubisoft. Dito isto...

...Assassinos e Templários, empenhados em uma gerra secreta desde os tempos antigos, disputam a posse da “Maçã do Éden”. Artefato que segundo a crença contém "código genético do livre-arbítrio”. Nos tempos atuais, Callun Lynch (Fassbender) está no corredor da morte prestes a ser executado. Mas, ao invés de morrer, acorda em uma instituição cientifica com objetivos obscuros. Sem grandes explicações por parte de sua anfitriã, a cientista Sofia (Marion Cotillard, meio perdida), o protagonista é usado como cobaia de um experimento que através da memória genética é capaz de acessar a vida de seus ancestrais. Lynch é descendente de Aguilar de Nerha, membro da Ordem dos Assassinos e último a ter acesso à tal Maçã.

Sim, o nosso DNA é capaz de registrar tudo o que vivemos e transferir estas experiências para nossos descendentes. Mas não é só isso, ele registra tudo em uma espécie de linha do tempo que com ciência e tecnologia avançadas pode ser acessada no ponto em que deseja, revivida e exibida à terceiros em formas de projeções. Parece muito trabalho até para um código genético, não? Mas seria uma premissa aceitável, se o roteiro se esforçasse um pouco mais para torná-lo crível.

Ao invés disso, o longa seque a história confiante de que o expectador vai se apegar ao personagens (ou talvez ao seus intérpretes) e as longas cenas de ação.  O resultado e um universo aparentemente rico que nunca realmente conhecemos e uma boa premissa mal desenvolvida. Optando pelas curso mais óbvio e consequente as soluções mais óbvias para desenvolver sua trama. Ao ponto de já sabermos exatamente a função de muitos dos personagens apenas por sua primeira aparição na tela. Aquele vai ser o traidor, o outro entrou só para morrer, está está sendo enganada e não demora muito a descobrir...

A coisa fica melhor quando Lynch assume os passos de Aguilar e somos transportados para a Espanha do século XV. A disputa pelo artefato resulta em belas cenas de luta e parkour em uma atmosfera completamente diferente. O resultado é um conceito interessante enquanto a coreografia salta de uma luta cheia de dublês em um cenário rico, para Lynch reproduzindo a ação sozinho em uma engenhoca moderna, e de volta para as ruas espanholas. Infelizmente apesar de esteticamente incríveis, e frenéticas um olhar mais atento vai revelar alguns momentos sem sentido, ou que você não tem certeza do que exatamente aconteceu.


Outras questões também ficam no ar. E não estou me referindo daquelas destinadas a trazer uma sequencia para a franquia em potencial, mas dúvidas ao decorrer da trama. Um excelente exemplo é a indecisão sobre a natureza da “Maçã do Éden”, que tem ares de metáfora, mas é um artefato real. É temido e disputado desde a idade média, mas contém o "código genético do livre arbítrio", conceitos que na época tanto, templários quanto assassinos eram incapazes de compreender. O plano e motivação para usar a relíquia também geram dúvida: vamos eliminar o livre arbítrio de toda a humanidade? E quem vai comandá-la?


É claro, uma visita ao google me explicou parte desses conceitos  que pertencem ao tal universo pouco explorado da franquia. Também verdade que nem tudo precisa ser explicado imediatamente, especialmente se a história promete crescer em sequencias, mas o mínimo pra a compreensão deve estar presente.

Novamente é hora de mencionar: uma adaptação de um produto para uma nova mídia precisa funcionar sozinha. Assassin's Creed exige um Salto de Fé* do expectador que, sem um guia, dificilmente vai conseguir mergulhar sozinho neste universo cheio de potencial.

Assassin's Creed (Assassin's Creed)
2016 - EUA - 115min
Ação/Fantasia/Aventura

*O Salto de Fé é outro dos conceitos do game, que no filme é jogado sem grandes explicações. E como seu resultado desafia a morte, resta ao expectador se perguntar como este foi possível.

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