Os Saltimbancos Trapalhões – Rumo a Hollywood

Não quero isso! - Foi essa a reação imediata e inevitável que tive (e acredito que não sozinha), ao descobrir durante a última Comic Con Experience a existência de Os Saltimbancos Trapalhões – Rumo a Hollywood. Reação comum e justificável quando anunciam alguma obra que de certa forma interfere em um clássico do cinema, o mesmo, simplesmente com um favorito de infância. No meu caso Os Saltimbancos Trabalhões de 1991, se encaixa nas duas categorias.

A escolha por um retorno à obra circense é, no entanto, é compreensível. É o filme de maior sucesso dos Trapalhões, logo é a escolha perfeita para celebrar o 50º filme de Renato Aragão. Seu objetivo maior é homenagear não apenas o Didi, e Dedé que também está em cena, mas todo o quarteto trazendo de volta seu campeão de bilheteria e grande expoente da cultura circense que o grupo de palhaços de cara limpa tinha como cerne.

Grande Circo Sumatra está com dificuldades desde que os animais foram proibidos no picadeiro. Sem opções o Barão (Roberto Guilherme, o Sargento Pincel) coloca Satã (Marcos Frota) como gerente e permite que ele ocupe o espaço com os estranhos eventos do prefeito da cidade (Nelson Freitas). Didi (Renato Aragão) e Karina (Letícia Colin) precisam criar um novo espetáculo que traga de volta o público e a essência do circo.

Some aí a namorada/comparsa do vilão, a Tigrana (Alinne Moraes), e o par romântico da mocinha Karina, Frank (Emílio Dantas) e todos os nomes conhecidos da versão de 1981 estão de volta. Mas as semelhanças param por aí. Não se trata de um remake, tão pouco uma continuação, Os Saltimbancos Trapalhões – Rumo a Hollywood é mesmo uma grande homenagem, inspirada pelo filme original. Talvez por isso sua trama e conflitos sejam tão simples e despretensiosos.

O circo tem problemas, e os artistas estão fazendo um esforço para salvá-lo, é verdade. Entretanto quando chega o clímax e o confronto entre mocinhos e vilões, basta um rosnado (literalmente) para que a gangue do mal desista. As canções do longa original estão de volta, com novos arranjos e belos números, mas a maioria não se encaixa na trama. Estão lá apenas para você que cresceu ouvindo as reconheça. Mas e quem não tem essa bagagem?

Outra situação confusa é a opinião ambígua do filme sobre a presença de animais circenses. Vários personagens repetem que a decadência começou após a proibição da exploração dos animais de circo, ao mesmo tempo que afirmam que era o melhor para os bichinhos. - Ué, sempre discordaram do uso de animais no espetáculo, mas nunca fizeram nada?  

O filme novo tem animais sim, em CGI 
Soa como um constante pedido de desculpas aos animais, por um comportamento de outra época, que felizmente superamos. Vale lembrar, o primeiro filme tinha animais. Ao tempo a ausência dos bichos é a causa de toda a ruína com o circo. O que de certa forma desvaloriza todos os artistas com números que usam apenas humanos. Uma opinião acidental, reforçada quando a solução para atrair o público é encontrada. Os artistas fariam os mesmos números, porém vestidos de bichos.

Ok. Eu sei que é um resgate dos Saltimbancos originais, mais uma homenagem em meio à tantas. Mas, a mensagem saiu diferente da intenção original. Parece que faltou um pouco mais de dedicação ao roteiro como um todo. Para encaixar bem as canções e evitar a ambiguidade de opiniões. E encontrar funções melhores para alguns personagens. Os de Maria Clara Gueiros, Lívian Aragão e Rafael Vitti parecem estar lá apenas para replicar situações e números do filme original, não contribuem muito com a história.

Salvam-se aí o esforço de Alinne Moraes para abraçar uma versão mais caricata de sua vilã, infelizmente ela faz isso sozinha e acaba fora de tom. E, claro, a reunião de Didi e Dedé em cena. Agora com as piadas físicas limitadas (nada de piruetas), a dupla é responsável por grande parte da nostalgia que o filme evoca. Eles trazem de volta aquele humor inocente e até meio bobo para os padrões de hoje. Mas que deve encantar e matar a saudade para quem cresceu com eles.


Nostalgia deve atrair os mais velhos. Os bem pequenos vão se divertir com as piadas. Já os jovens serão difíceis de conquistar. Os Saltimbancos Trapalhões – Rumo a Hollywood, vale pela homenagem. E também por ela, merecia um esforço e detalhismo maior. Estamos homenageando pilares do humor nacional, e um dos clássicos de nosso cinema, podia ser mais. Não chega aos pés do original, mas se apresentar o filme de 1981 e o quarteto à novas gerações me dou por satisfeita.

Ah! E não deixe de acompanhar a sequencia de créditos.

Os Saltimbancos Trapalhões – Rumo a Hollywood
2017 - Brasil - 99min
Comédia

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