Indesejadas

Admito, livros policiais não são aqueles que mais procuro. Sim, gosto do gênero, mas na hora das escolhas neste mundo que não é possível ler tudo os crimes acabam perdendo para a fantasia, aventura e ficção-cientifica. Então começo essa resenha com duas coisas que aprendi em minha mais recente leitura. A Vestígio é um selo dedicado à livos policiais - como não notei isso antes? - E escritores escandinavos gostam de literatura policial.

Em Indesejadas de Kristina Ohlsson, o desaparecimento de uma menina em um trem para Estocolmo incia uma investigação aparentemente comum de disputa de guarda. O que o leitor logo percebe, mas é claro que os investigadores não, é que o caso é muito mais complexo que isso. Trata-se de uma série de crimes (não é spoiler, tá na capa) brutais tendo início. 

Acompanhamos o dia-a-dia dos investigadores Fredrika, Peder e seu chefe de equipe Alex, a partir do momento em que a menina é dada como desaparecida. Vale lembrar que em qualquer investigação desse tipo as primeiras horas são cruciais, por isso a correria para desvendar o caso o mais rápido possível. Entretanto, diferente dos investigadores de séries televisivas que abandonam tudo durante a investigação, estes policiais precisam continuar funcionando. É quando eles voltam para casa, após um dia cheio, que o livro encontra tempo também para abordar aspectos de suas vidas e nos fazer entender suas escolhas ao longo do caso. 

Alex é um chefe cheio de experiência, e por isso com um excesso de segurança que pode prejudicar as investigações. Peder é um jovem investigador em ascensão e arrogante por isso, com sérios prolemas em seu casamento, logo um pouco distraído. Ambos fazem pouco de Fredrika por ser uma cívil. A analista criminal não fez carreira na academia de polícia. O trio compartilha a condução da história, e consequentemente o protagonismo.

Esta divisão de pontos de vista, oferece dinamismo à trama, além de oferecer diferentes pontos de vista e formas de lidar com o mesmo caso. Enquanto Peder e Alex seguem a linha padrão, e geralmente mais comum nestes casos, Fredrika insiste em revisar todos os ângulos. É claro, como conhecemos um quadro maior do caso, tendemos a torcer pela moça menosprezada pelos colegas. Ao mesmo tempo, que não podemos discordar da lógica investigativa dos veteranos. Geralmente a explicação mais simples é a correta.

O carisma dos personagens bem construídos, somado à este dinamismo entre pontos de vista, e o quebra cabeças que o leitor aceita tentar juntar são os pontos fortes do título. Que ainda complica a trama, com falsas pistas, personagens secundários suspeitos e todos os elementos comuns à uma trama policial. E, caso esteja se perguntando: sim, o trio vai aprender a trabalhar junto, e se respeitar suas diferenças até o fim do caso. Ao ponto deste livro ser o ponto de partida de uma série, cujas sequencias Silenciadas e Desaparecidas, já foram lançadas por aqui, 

O ponto fraco fica por conta do ritmo. Desde a capa, o leitor sabe que haverão múltiplos crimes contudo, passamos mais da metade do volume, seguindo apenas o caso da menina desaparecida no trem. Para na segunda metade a velocidade dos acontecimentos aumentar bruscamente. É compreensível, um início mais lento, para apesentar os personagens e o universo em que vivem. Mas, esta introdução é lenta demais e torna a leitura um tanto quanto irregular. 

Já o desfecho, apesar de muito bem conduzido não é dos mais criativos. O leitor descobre as motivações do crime muito antes dos detetives. Isso enfraquece os personagens, e a construção daquelas "pistas falsas" que mencionei anteriormente. Aliás talvez sejam estes detalhes bem posicionados, que criem uma certa expectativa de uma reviravolta que não vem. Você desconfia que entendeu o cenário, e espera que os investigadores tenham uma capacidade extra que você leitor não tem, e revelem um detalhe que você não notou. Mas, não. Você acertou, é tão ou mais esperto que a polícia!

A pequena decepção do desfecho, no entanto não estraga a jornada. Uma linguagem dinâmica, clara e bem conduzida por alguém demonstra certo conhecimento deste universo - a autora trabalhou por muito tempo em uma organização policial por muito tempo - Conduzida por personagens complexos, e bem apresentados. Resultam em uma trama intrigante, se não surpreendente, ao menos satisfatória. Ao final, tudo faz sentido e não há pontas soltas. 

A primeira edição lançada pela vestígio, não é das mais luxuosas. De fato, é uma encadernação extremamente simples, mas é leve e prática. Tamanho e peso perfeitos para quem gosta de carregar um livro como companhia para todo lugar que vai. Foi essa a edição que literalmente carreguei por aí. Já a segunda edição ganhou capa nova, e a informação de que se trata do primeiro volume de uma série. É possível encontrar ambas as edições nas lojas. 

Indesejadas (Askungar)
Kristina Ohlsson
Vestígio

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