Mulher-Maravilha

É uma pena não podermos dizer que Mulher-Maravilha é a primeira incursão solo de uma super-heroína nas telonas (os esquecíveis Elektra e Mulher-Gato vieram primeiro), pois isso seria começar com o pé direito. Ou no estilo da amazona "chutando bundas à porta". Por outro lado, como já mencionei as incursões anteriores são esquecíveis - desculpe por te lembrar da existência delas - e talvez o filme de origem da amazona entre para a história dos heróis no cinema por outro feito: acertar onde seus antecessores do novo universo da DC no cinema erraram. Ser um filme eficiente ao apresentar e representar sua protagonista e ainda muito bem executado.

Diana (Gal Gadot) cresceu na isolada ilha de Themyscira sob influência das histórias dos feitos heroicos das amazonas que vieram antes dela, como sua super-protetora mãe Hipólita (Connie Nielsen) e sua tia tia Antíope (Robin Wright, excelente). Isoladas no paraíso, é a queda do avião de Steve Trevor (Chris Pine) que alerta: o mundo é bem diferente da bela ilha em que vivem. A Primeira Guerra Mundial está assolando a humanidade, e a protagonista sente que tem um dever à cumprir para trazer a paz de volta.

Na companhia de Trevor, Diana sai para conhecer o mundo, literalmente. Onde há não apenas a loucura de uma guerra em si, mas as regras e imposições de uma sociedade completamente diferente que vão chocar a protagonista. O confronto entre mundos também é base de boas piadas, de certa reflexão e do romance entre a dupla, que aprende através das diferenças, o valor um do outro. Logo, a escolha do contexto histórico não poderia ser mais acertada.

Abandonar o paraíso e ir para a guerra = muito heroísmo!!!

As primeiras décadas do século XX, abrigaram o início dos movimentos de direitos das mulheres. Apenas o início, Diana vai estranhar, não poder falar, as roupas sufocantes, não poder ir à guerra, ser menosprezada por ser mulher... e por aí vai. Não que isso a abale, a moça rebate cada impedimento, superando-os. Ao ponto dos homens à sua volta, moldados neste mundo machista, aceitarem ser salvos por ela, e até peçam sua ajuda.

Sim o filme é feminista, mas não é panfletário, nem diminui os homens para isso, como alguns podem tentar alegar. Embora Diana não precise de ajuda, Steve Trevor tem espaço e sua própria jornada à cumprir. Aliás é Pine o principal responsável pela química da dupla em cena, seja em batalhas ou no seu curto romance (sim tem romance, é importante para a trama, mas não rouba tempo desnecessário da história). Ele acerta o tom das piadas e dos momentos dramáticos, compensando os momentos em que a pouca experiência da protagonista poderia ser um empecilho.


Gadot acerta em dar à protagonista um olhar ingênuo, cheio de esperança e persistente mesmo com os horrores da guerra à sua volta. É claro, que a personagem vai evoluir. Entender que o mundo  não é "preto-no-branco", r que às vezes às mudanças precisam de mais que apenas força de vontade. Este é outro ponto de discussão interessante entre os personagens, a visão simples de bem e mal da mocinha ainda ingênua, em contraponto com a percepção de ambiguidade dos soldados cansados da guerra.

Não é segredo que Ares é o vilão, mas não é possível falar muito dele sem estragar a experiência. Basta dizer que suas motivações e modus operantis são bastantes distintos e interessantes. E embora não vá se tornar um vilão icônico do cinema, ele cumpre seu papel na narrativa.

O escorregão fica por conta de algumas cenas em precárias CGI, que tiram o expectador da narrativa, ao parecerem faltas. E no excesso da câmera lenta em cenas de ação. As lutas são bem coreografadas e o efeito é bem produzido, mas sua presença em quase todas as cenas de luta, diminuem o impacto naquelas cenas em que a velocidade reduzida aprimorariam a experiencia.

Falando em aprimoramento da experiência, o 3D é bom, mas não indispensável. E a excelente música tema da protagonista apresentada em Batman VS Superman está de volta. E esta sim, faz toda a diferença quando presente!

É verdade, Gal Gadot ainda tem um longo caminho a seguir para se tornar uma intérprete impecável para a heroína. Mas bem dirigida e com o apoio do elenco correto, ela serve o papel de forma eficiente e até com certo carisma. Quem também serve bem à seus propósitos o roteiro, simples, sem excessos, e com o objetivo de apresentar bem Diana, refletindo inclusive sua personalidade, mais esperançosa e otimista. O filme é menos sombrio os de seus colegas da Liga, mesmo na cinzenta Londres em meio à guerra. E ainda sobram cores para criar um contraste com a vibrante e quente Themyscira.

 A Mulher-Maravilha faz sua estreia no cinema um passo à frente de seus colegas cheios de filmes do currículo, Batman e Superman. Ela estrela não apenas um filme eficiente e, ao menos em relação ao roteiro, livre de polêmicas. Mas também uma produção, divertida, auto-suficiente -  não há grandes ganchos com o universo DC, e nem precisa - e com boas mensagens. Um ótimo filme, que assim como sua protagonista faz em um mundo em guerra, deve trazer esperança para os fãs de quadrinhos na tela grande.

Mulher-Maravilha (Wonder Woman)
2017 - EUA - 141min
Ação, Aventura, Fantasia

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