Justiceiro - 1ª temporada

Frank Castle, roubou a cena - no bom sentido - na segunda temporada de Demolidor. Por isso, ninguém achou ruim quando a Marvel e a Netflix anunciaram a série solo do Justiceiro. Todos queriam mais episódios focados na máquina de matar, mas não precisavam ser tantos assim.

Castle (Jon Bernthal) é um personagem simples, um fuzileiro naval que perdeu toda a família e mergulhou em uma jornada por justiça vingança. Jornada que ele encerra logo na primeira cena da série. Sem um objetivo na vida, o personagem mergulha no vazio. Trabalhando obsessivamente para ocupar mente e corpo nem uma tentativa inútil de se manter fora de encrencas. É claro, que não demora muito para que esta rotina seja quebrada e Frank tenha que voltar à ação, mas não sem muitos dilemas e hesitação.

Enquanto isso acompanhamos também Dinah Madani (Amber Rose Revah), policial persistente que descobriu corrupção no sistema, e tenta incansavelmente fazer justiça. Lewis Walcott (Daniel Webber), soldado com stress pós traumático, que não consegue se ajustar a vida de civil e frequenta o grupo de ajuda de Curtis Hoyle (Jason R. Moore), ex-companheiro de pelotão de Castle. Billy Russo (Ben Barnes, o Principe Caspian de Nárnia) é o extremo oposto, boa-pinta e bem articulado, o outro ex-companheiro de guerra do protagonista abriu sua própria empresa e se tornou milionário após deixar o serviço militar. Micro (Ebon Moss-Bachrach), assim como Frank "já morreu", mas sua jornada é um reflexo com chances de final feliz da mesma história. E não podemos esquecer de Karen Page (Deborah Ann Woll), uma das poucas pessoas que sabem que o Justiceiro está vivo, e que adora se meter em encrencas.

Achou gente demais? E é. Cada um com seus arcos e tramas próprias, que são interessantes e preenchem os 13 episódios da temporada, mas não necessariamente colaboram para o desfecho da trama principal. Competindo em atenção com o protagonista, que em alguns momentos cai para o segundo plano. O que somado aos seus muitos dilemas diminui o potencial de "matança" em tela. Um pouco decepcionante para aqueles que esperavam ver a máquina de matar dos quadrinhos.

Calma, pois a série ainda tem seus momentos. Momentos de grande violência, brutal, gore e nada bonita - acerto por não glamourizar a violência. E Bernthal, com sua falta de articulação, grunhidos e passo pesado, comprova mais uma vez que nasceu para este papel, inclusive nas sequências em que o personagem é atormentado por dilemas e lembranças. Dilemas esses que tentam dar mais profundidade para um personagem que funciona melhor quando é simples (perda = vingança), e principalmente para apontar que a produção está ciente de ter um homem treinado e altamente armado como "herói", em um país em que massacres por supostos justiceiros estão virando lugar comum.

A criação deste tipo de - por falta de palavra melhor - justiceiro deturpado, é um dos arcos mais interessantes dos coadjuvantes. A jornada de Lewis Walcott, discute as consequências do pós-guerra, o abandono dos EUA aos seus soldados, e a sustentação de uma ideologia deturpada de justiça. Sempre reforçando que o protagonista anti-herói é bastante diferente de um terrorista comum. 

Outro acerto é a relação entre Micro e Frank. Dois homens com mesma história e objetivos, mas com perspectivas completamente diferentes. A química de opostos entre Ebon Moss-Bachrach (excelente) e Bernthal é impecável. Assim como a atuação de todo o elenco. É difícil não cair na conversa cheia de charme de Billy Russo por exemplo. O ponto fraco fica por conta de Amber Rose Revah, que pouco consegue imprimir força que Dinah Madani, policial cheia de convicções e de origem árabe (um dilema pouco explorado) necessita.

Apesar de muitos arcos e discussões, como a questão do porte de armas - outra em que a Netflix, não declara um lado - ainda sobra tempo para triângulos amorosos e romance platônicos. - Sim, estou shippando Karen e Frank. - Tornando o miolo da série um tanto quanto arrastado. 

Marvel e Netflix tem consciência das responsabilidade de trazer um anti-herói possível (ele não tem super-poderes, só treinamento e armas) e tão violento para o universo mais realista que criou para as séries do serviço de streaming. Logo, é compreensível que a série gaste certo tempo justificando as ações de Castle, e explicando que apesar de protagonista, ele não é exemplo a ser seguido. Ainda sim, o ritmo poderia ser melhor com menos episódios para preencher.

Justiceiro não é livre de falha, mas é um bom acréscimo à franquia, principalmente pelas boas atuações e pelos momentos em que a simplicidade do personagem supera a complexa trama. Não é bonito admitir, mas o que realmente gostamos em Frank Castle é suas habilidades de matar.  

Este Justiceiro apareceu pela primeira vez na 2ª temporada de Demolidor. Sua série própria tem 13 episódios todos, já disponíveis na Netflix

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