Tudo e Todas as Coisas

Síndrome da Imunodeficiência Combinada é o nome da condição que impede Maddie (Amandla Stenberg,a Rue de Jogos Vorazes) de ter uma vida normal. Já que seu organismo é incapaz de combater infecções vírus e bactérias ela passou seus 18 anos de vida sem sair de sua casa, com pouquíssimo contato com outras pessoas, seu pai e irmão morreram há muito tempo. A garota passa seu tempo na internet, lê muitos livros, estuda, tem a companhia de uma enfermeira e ambientes confortáveis, pensados para da a sensação de estar do lado de fora. Mas não importa se sua gaiola é de ouro cravejada de diamantes, ainda é uma gaiola.

Mas Maddie estava confortável e conformada com sua situação, até que uma nova família se muda para casa ao lado. É claro, o interesse entre a protagonista e Olly (Nick Robinson, Jurassic World) é instantâneo. Fazendo a menina se questionar quanto à o que está perdendo, e quais destas coisas valeriam o risco de sair de sua gaiola esterilizada. Tudo e Todas as Coisas se encaixa no que parece ser o novo sub-gênero da moda: adaptações literárias juvenis com dilemas que abrangem a morte eminente, como Se eu ficar e Como eu era antes de você. E à exemplo deles, tenta tratar o dilema de forma leve, simples e até lúdica. Mas, talvez um pouco simples demais.

A simplicidade vai desde da escolha batida, mas sempre eficiente, do branco e tons pasteis que cercam à adolescente, em contraste com as cores do mundo lá fora e as roupas escuras do rapaz, ate o desenvolvimento da trama. O romance virtual é criativo ao trazer as mensagens de texto para simulações imaginárias de conversas nas maquetes que a menina cria, entre outros recursos visuais nenhum deles extremamente inovador. 

Já a jornada você já deve adivinhar: a mocinha corre riscos para viver esse romance, e luta contra o impedimento da mãe, seus próprios receios e até os de Olly, que não quer fazer mal à garota. Tudo em nome do "viver bem a vida", buscar novas experiencias, aproveitar as oportunidades que encontra, etc. Uma boa mensagem, passada de forma eficiente no filme.

Entretanto ao focar apenas na simplicidade de uma única mensagem, o longa não segue seu próprio conselho. Perdendo a oportunidade de explorar outros temas, como a família complicada do mocinho, os medos de sua mãe e claro a própria mortalidade. Sabemos que Maddie compreende sua condição, mas não temos certeza de seu medo de morrer ou de ficar sozinha. A menina parece anestesiada em sua vida, até que se apaixona e começa a não se importar com a morte. O que teria mais impacto se tivéssemos noção do quando ela se importava antes. A sensação de que a narrativa podia ser mais, pode incomodar muitos.

Outra coisa incômoda para os mais atentos, são alguns detalhes que não condizem com a quantidade de cuidados que o filme afirma que alguém com Síndrome da Imunodeficiência Combinada precisa ter. Sua mãe e sua enfermeira por exemplo, passam por portas compartimentadas antes de entrar na casa, lavam as mãos, trocam os sapatos, mas interagem com a garota com as mesmas roupas que andaram na rua. Elas tocam na menina, respiram o mesmo ar, trariam bactérias da rua, não trariam?

Esses detalhes podem ser mera falta de pesquisa, tanto do filme quanto do livro homônimo de Nicola Yoon que o inspirou. Ou pistas para uma reviravolta que poderia diferenciar Tudo e Todas as Coisas dos filmes juvenis desta temática.

Cuidado a partir daqui o texto contém SPOILERS

As falhas na criação do ambiente estéril poderiam ser um indicador dos segredos da mãe sobre a real condição de Maddie. Poderiam, mas não são. E assim como os outros temas que não envolvem o "Carpe Diem", é pouco explorado, o que neste caso é muito mais grave. As atitudes da mãe vivida por Anika Noni Rose (Dreamgirls, A Princesa e o Sapo), não são apenas criminosas, mas cruéis, irresponsáveis, doetias e afetarão a vida da filha para sempre. Mas o filme é brando com sua punição, apelando para a desculpa do excesso de zelo de uma mãe extremamente amorosa e muito traumatizada.

Ok, eu não estava esperando que a polícia aparecesse e a produção tivesse seu desfecho como um filme de tribunal. Mas, uma discussão mais consistente entre mãe e filha, ou mesmo uma reação mais expressiva daqueles que as cercam seriam bem vindas. Me pergunto se no livro, as coisas também são resolvidas desta forma.

Fim do trecho com SPOILERS

Apesar destes escorregões Tudo e Todas as Coisas é bem produzido. Cai no clichê de dar mais espaço para o romance que para os outros bons temas, mas ganha pontos com o elenco empenhado e carismático.  Tinha potencial para ser melhor? Sim, tinha. Mas se os adolescentes saírem da sala discutindo os pontos apenas apontados pelo longa, já fico satisfeita!

Tudo e Todas as Coisas (Everything, Everything)
2017 - EUA - 97min
Romance, Drama

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