Bingo: O Rei das Manhãs

Não se espante se achar a figura título de Bingo: O Rei das Manhãs familiar. De fato, se você trem 30 anos ou mais, provavelmente vai lembrar de um certo palhaço que fazia sucesso com a criançada na década de 1980. O longa é inspirado na vida de Arlindo Barreto, especificamente no período em que ele interpretava o Bozo na televisão.

Augusto Mendes (Vladimir Brichta) não tinha muita sorte na carreira de ator até conseguir o papel Bingo, palhaço apresentador que anima criançada diariamente nas manhãs de uma emissora de TV. Um sucesso meteórico de audiência, Bingo ficou famoso, mas seu intérprete por trás da maquiagem não. A frustração por não ter seu trabalho reconhecido e a vida desregrada de quem alcançou sucesso e fama sem estar pronto para lidar com isso colocam o protagonista em um caminho complicado.

Sim, é uma típica trama de potencial desperdiçado, deslumbre com a fama e problemas com drogas. Mas é uma história muito bem contada e com a peculiaridade de se passar nos "loucos" anos de 1980, relembrados sempre como uma época de excessos e exageros. O longa, aliás, acerta e muito na reconstrução da época sem ser negativamente crítico. Sim, era cafona, mega colorido, exagerado e até absurdo, mas era assim que as coisas eram e pronto.

A produção não precisou apenas recriar a década, mas também nomes, logos e cenários sem perder a familiaridade com o real. Já que questões de direitos autorais impediriam o uso do nome Bozo, o apresentador virou Bingo. Junto com ele, todos os nomes mudaram oferecendo maior liberdade criativa para o roteiro, que incluiu situações ficcionais e casos que aconteceram também com outros atores que deram vida ao palhaço -  o personagem teve mais de uma dezena de intérpretes por todo país entre 1981 e 1991. Se você não sabia, desculpe por estragar sua infância!

A única personagem que teve seu verdadeiro nome mantido é Gretchen. A rainha do rebolado foi divertida e acertadamente recriada por Emanuelle Araújo. Mas o destaque do elenco é mesmo Brichta, que mergulha de cabeça tanto na pesona do palhaço, quando na pessoa perturbada por trás do pancake. Além da falta de reconhecimento e do problema com drogas, Augusto ainda tem que lidar com as restrições e o roteiro ruim impostos ao personagem pelo criador "estadunidense", com a diretora linha dura  do programa vivida por Leandra Leal e a falta de tempo de brincar com seu próprio filho (Cauã Martins). E por mais que faça tudo errado - muito errado mesmo! -, seu carisma impede que o público não escolha torcer por ele.

Uma versão romanceada e muito bem construída de um ícone da infância de muita gente, Bingo: O Rei das Manhãs vai conquistar muita gente não apenas pela trama e boa atuação, mas pela nostalgia. Tente não sorrir ao reconhecer uma propaganda do pirocóptero no fundo de uma cena, ou ao perceber que a TV de hoje nunca exibiria programas infantis como aqueles que assistíamos. Filme de estreia de Daniel Rezende como diretor, é uma feliz surpresa do cinema nacional vai agradar e muito a todos que sobreviveram à TV da era "pré-politicamente correto", e não cresceram problemáticos por causa disso.

Bingo: O Rei das Manhãs
2017 - Brasil - 113min
Drama, Biografia

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