Lady Bird: É Hora de Voar

Histórias de amadurecimento normalmente cativam o público com facilidade, afinal é uma fase da vida pela qual a grande maioria das pessoas vai passar. O que diferencia estas jornadas é a época em que acontece e a personalidade de quem a conduz. Lady Bird: É Hora de Voar se alimenta e muito das experiências de sua diretora e roteirista Greta Gerwig.

Christine McPherson (Saoirse Ronan), ou “Lady Bird” como se auto-nomeou, é dramática, tem inclinações artísticas e um desejo natural de contestar a autoridade. Ansiosa por ver o mundo, quer cursar faculdade longe da cidade onde cresceu, Sacramento, mesmo que a ideia não combine com sua situação financeira ou os desejos de sua mãe, com que está sempre em conflito. Some aí outros desafios típicos da idade como, seguir as regras de seu colégio católico, o relacionamento com as amigas, o primeiro namoro, a perda da virgindade, o início da consciência quanto aos custos da vida adulta, entre outros ritos de passagem.

Lady Bird se passa no início dos anos 2000, o que traz características específicas para as situações que a protagonista enfrenta. Da popularização dos celulares, ainda não acessíveis financeiramente para todos, à crise pós 11 de Setembro, tudo influencia as atitudes de Chistine, mesmo que ela ainda não tenha consciência disso. Seja mentira idealista para justificar a falta de celular para os amigos, quanto à relação com Nova York, ao mesmo tentadora e assustadora, com a ameaça terrorista no auge de sua urgência.

É na escolha do período histórico e localidade, bem como na personalidade peculiar de sua protagonista, que percebemos detalhes biográficos na produção. Gerwig cresceu em sacramento e também passou pela fase de amadurecimento no início do milênio. Embora não se trate de sua história propriamente dita, muitas das idéias e temores dos personagens, são condizentes com a realidade da época, baseados na experiência de sua criadora. Característica confere à produção uma verdade fácil de se identificar e relacionar, mesmo que você não tenha vivenciado a mesma época com a mesma idade.

Entretanto, é no trabalho de suas protagonistas que o filme mais se destaca. Ronan, constrói de forma acertada a personagem título, equilibrando bem seus medos e impetuosidade. Lady Bird às vezes erra e passa dos limites, mas faz isso tentando evoluir do único jeito que sabe, tentativa e erro. É uma alma que cresceu demais para aquela cidadezinha e tenta apenas encontrar uma saída.

O contraponto perfeito para todo esse desejo de liberdade é sua mãe Marion (Lauren Metcalf, que também é a mãe do Sheldon em The Big Bang Theory) conservadora, atarefada e tentando manter o equilíbrio em casa com o desemprego do marido. É a dinâmica entre a dupla, recheada de bons diálogos que mantém o público alerta, conforme a dupla muda de tom ao longo de suas cenas. Indo da briga à concordância em um mesmo diálogo, com uma naturalidade que delimita muito bem a relação de amor e ódio entre mães e filhas nessa fase.

Lady Bird: É Hora de Voar não traz algo incrivelmente inovador, e provavelmente nunca teve essa pretensão. Sua originalidade está na forma com que aborda a já bem conhecida fase do amadurecimento, apoiada em diálogos, situações e personalidades verdadeiras. Conferindo assim carisma e personalidades próprias ao primeiro trabalho solo de Gerwig como roteirista. Um excelente retrato da época que escolheu abordar. 

Lady Bird: É Hora de Voar (Lady Bird)
EUA - 2017 - 94min
Comédia, Drama

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